Escadas das Verdades - Bairro do Barredo - Porto |
Há sítios que para uns não dizem nada, são simples escadas velhas e cheias de musgo junto a casas e cair, inabitadas, perdidas por entre as ruelas de bairros outrora movimentados que hoje quase ninguém ousa percorrer. Ficam assim ao abandono zonas inteiras que aproveitadas seriam belíssimas, com fantástica vista e óptima acessibilidade. Claro que isto é propício a que se tornem mal frequentadas e obscuras e que tudo e mais alguma coisa conduza à sua constante degradação. No entanto, para outros, sítios simples como estes significam tanto! O sítio da foto, é para mim, um desses sítios que nos dizem tudo. Fui lá tão feliz e tão triste em tempos passados. Apesar do ar antigo e desconfortável que aparenta, com a companhia certa, torna-se tão belo e místico e inesquecível e divertido e aconchegador! Sentada nessas escadas (não muito vísiveis na foto uma vez que são um pouco mais acima), vi o metro percorrer incansavelmente a Ponte D. Luís como se não houvesse amanhã. Também para mim, nesses momentos não houve um "depois". Não houve um "amanhã". Houve o "agora", o "presente", por mais doce ou amargo que ele fosse. Era ali, naquele ambiente misterioso e sedutor que tudo acontecia, o bom e o mau. Era ali que eu saboreava os beijos mais adocicados e que chorava as lágrimas mais salgadas. Era ali que arrepios percorriam todo o meu corpo sem que eu os pudesse controlar, que suspiros e segredos e palavras bonitas voavam silenciosamente do coração para os ouvidos. Era também ali que gritos de dor, loucos e porém tão mudos, abafavam todos os sons daquela natureza morta que eu havia gravado na memória. Era ali que imagens momentâneas, fortes e vigorosas, transpunham pequenos pormenos que eu fotografara com o olhar anteriormente e guardara na lembrança. O facto de um capítulo da minha vida ter iniciado e terminado exactamente ali, exactamente no mesmo sítio, nas mesmas escadas, junto às mesmas casas, diante do mesmo metro, dá-lhe algo mágico que nada poderia abalar, mesmo estando já passado e ultrapassado tal capítulo. Algo que faz com que eu queira lá voltar, apesar de saber que isso vai chamar a saudade e atiçar a melancolia que estão enterradas e adormecidas no fundo do meu coração e que só acordam às vezes, com impulsos muito fortes. Agora que reparo no que escrevi, talvez não estejam completamente ultrapassados - isso significaria que esta parte da minha história estaria esquecida e isso nunca vai, claramente, acontecer. Simplesmente já passaram, ficaram para trás, agora empenho-me em escrever novas páginas, nunca esquecendo que cada pedacinho do meu passado me construiu, cada capítulo consolidou a minha história. Uns custaram muito a escrever, outros fluíram como ar, tão espontaneamente! Ainda tenho um enorme livre em branco para preencher e felizmente, alguém que me dá a mão quando me canso de escrever. Vou-me ocupar disso.
"E se o nosso amor não parece um filme, então não sei o que parece. (...) De quando em vez pergunto-te se tens saudades minhas, mas «não interessa» é algo com que tenho de aprender a viver." - in "Silêncio", 02-02-10, AnneL. -
O texto e a foto estão lindos :) Ainda para mais é sobre o meu e adorado Porto!
ResponderEliminarPodes seguir-me sim, e pelo que vi aqui acho que também vou seguir o teu :)
**
obrigada.
ResponderEliminarOlá :)
ResponderEliminarAntes de mais obrigada pela visitinha na "minha casa".
Também interesso-me muito por música, só não está na descrição nem sei bem porquê! Tenho que fazer um upgrade.
E sim, também sou caranguejo! :)
Um beijinho grande, volta sempre!
Ahahaah.... como eu te compreendo!! imagina eu que estou a trabalhar numa terrinha super pequena onde tudo fala de tudo e todos falam de todos! :) mas somos muito melhores que isso!! :p
ResponderEliminarImpossível ficar indiferente a estas músicas, mesmo! *-*
ResponderEliminarÉ bom ouvir isso, és um amor. :]
Beijinhos. :D
Tanto ela como as suas músicas. *-*
ResponderEliminarMuito obrigada linda. Já te estou a seguir também, com muito gosto. x)